Curso TPS 2009 SIC

Curso de Técnicas de Protecção e Segurança 2009

16/10/2007

Stopping Power e os "Strasbourg Test" 2

(Vide Stopping Power e os "Strasbourg Test" 1)

Stopping Power e os "Strasbourg Test" 2

Para os referidos testes, foi escolhida uma raça de cabras dos Alpes franceses, sendo utilizados machos adultos com um peso entre 156 e 164 libras, livres de doenças e com pulmões saudáveis.

Estas cabras foram escolhidas pelas seguintes razões:
1º - As cabras têm a área de corpo correspondente, aproximadamente, ao tamanho de um homem adulto comum.
2º - As cabras têm, também aproximadamente, o mesmo volume da cavidade toráxica e os pulmões localizados na mesma posição que um homem adulto comum.
3º - Alguns autores diziam na época que as experiências demonstraram que os ossos e os tecidos das cabras reagem de modo semelhante aos ossos e aos tecidos humanos quando atingidos por projécteis de armas de fogo.
4º - Outras experiências apontam no sentido de que os projécteis de arma de fogo necessitam uma penetração de onze a doze polegadas no corpo para serem efectivos, o que se mostrou verdadeiro também com aqueles animais.
5º - O pêlo das cabras parecia bloquear, até certo ponto, a trajectória dos projécteis, de modo similar às nossas roupas.

A metodologia empregada nos testes foi a seguinte: cada cabra estava ligada a uma máquina de electroencefalograma (EEG), para monitorizar a actividade das ondas eléctricas cerebrais, e a sensores extremamente sensíveis, que monitorizaram a pressão sanguínea. As cabras não foram anestesiadas porque isto influenciaria negativamente os resultados da máquina de EEG.

Foram utilizadas no total 611 cabras nos testes. Os animais foram atingidos por projécteis disparados directamente no centro de ambos os pulmões, a uma distância de dez pés. Foram evitados impactos nos restantes órgãos vitais, como coração e outros. Os animais que foram atingidos nestas áreas foram retirados do teste.

O tiro nos pulmões foi escolhido por ser a área mais provável de impacto de projécteis em seres humanos em situações de defesa ou durante o trabalho policial. As cabras foram monitorizadas durante trinta segundos, e se não morriam neste espaço de tempo, eram mortas.

Foram levadas em conta no teste duas medidas:
1º - O tempo decorrido entre o disparo e incapacitação total do animal, considerando-se que este não poderia voltar a levantar-se depois de atingido.
2º - Os investigadores observaram que em todas as cabras em que a incapacitação foi imediata, a pressão sanguínea diminuía cerca de doze vezes mais rapidamente do que nas cabras que tiveram incapacitações lentas.

Baseado nisto, os investigadores definiram que o choque hipovolémico era essencial à incapacitação imediata, bem como a interrupção no fornecimento de sangue ao cérebro, fenómeno relacionado com actividade electroquímica normal.

As conclusões dos investigadores que efectuaram os testes foram as seguintes:
- Projécteis pré-fragmentados e fragmentáveis causaram a maioria das incapacitações imediatas das cabras atingidas nos pulmões.
- Projécteis de ponta oca, que se expandem e então fragmentam, incapacitam mais rapidamente do que aqueles que só se expandem.
- Projécteis de ponta oca que se expandem imediatamente são mais efectivos que projécteis de expansão retardada, que penetram profundamente antes de se expandirem.
- Em regra, as munições +P e +P+ são mais efectivas do que munições com cargas de pressão "standard", embora haja excepções, como no caso das munições Hydra-Shok em calibre .45 ACP, e outras.
- Quanto mais rápida e violenta é a expansão do projéctil, maior é o dano nos tecidos e órgãos.
- Projécteis com pequena ou nenhuma expansão tiveram pouco ou nenhum efeito.
- Os projécteis que atingiram os ossos foram menos efectivos que aqueles que atingiram órgãos internos sem as suas trajectórias serem obstruídas.

Isto foi observado mesmo com projécteis de munições de alta velocidade, como os dos calibres .357 Magnum e 10mm, e também nas munições com projécteis pré-fragmentados MagSafe e Glaser Safety Slug.
- Finalmente, os investigadores concluíram que os resultados dos testes de Estrasburgo foram semelhantes aos actuais estudos do Sargento reformado do Detroit Police Department, Evan Marshall e do Cabo do Benton County Sheriff'sDepartment, Edwin J. Sanow.

Embora haja quem diga que os “Testes de Estrasburgo” não aconteceram, as conclusões publicadas são bastante próximas aos resultados conseguidos nos testes dos projécteis modernos, quer sejam eles em gelatina balística calibrada, quer sejam nas recolhas estatísticas de casos reais.

Apesar de ser muito provável de ocorrer o impacto de um projéctil nos pulmões em situações de confronto armado, também deveriam ter sido estudados os resultados de impactos noutros órgãos. Dos resultados dos testes apurou-se que o calibre .357 com projécteis hollow-point de 125 grains foi o mais efectivo, e a munição Federal em calibre.38 Special com projéctil de chumbo de ponta redonda (LRN), foi o menos efectivo.

Finalmente, assumindo que os Testes de Estrasburgo tenham realmente ocorrido, os investigadores que os efectuaram apenas reportaram os resultados a que chegaram. Se estes resultados devem ou não ser aplicados ao mundo real, ao confronto armado com pessoas, se devem ser utilizados como critério para a selecção de munições para uso defensivo ou policial, não sabemos ao certo, ficando a opção ao critério de cada um.

Duas coisas no entanto são certas e não são necessários muitos debates para chegar a estas conclusões: O Stopping Power por si só é um mito, e não existe nada que substitua um bom impacto no centro de massa do assaltante com um calibre decente para terminar um confronto (excepto talvez dois impactos...)

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